domingo, 26 de setembro de 2010

Lenda: Icamiabas

Guerreiras Amazonas - A Lenda das Icamiabas
Lenda tradicional da Amazônia - Recontada por Esperança Alves


"Conta a lenda que, há muito tempo , na Floresta Amazônica, existiu uma tribo indígena da grande nação “Tupi”, constituída unicamente de belas mulheres, livres e independentes, sem maridos, excelentes arqueiras e bravas guerreiras na defesa de sua gente, da floresta e de suas riquezas: as “Icamiabas “ .

Em noites de lua cheia, as “ Icamiabas” faziam uma cerimônia sagrada para a Deusa “ Iacy” , a mãe-lua, no lago “ Iacy-uaruá” , que quer dizer "Espelho da Lua". Para esse ritual sagrado eram convidados os indígenas “Guacaris”, vizinhos e amantes das belas guerreiras. Próximo à meia-noite, caminhavam, em procissão, pelas matas amazônicas, trazendo aos ombros potes cheios de perfumes - ervas e raízes cheirosas - que eram, então, despejados no lago, purificando-o e tornando-o sagrado para a cerimônia em honra de ” Iacy.”

Após o ritual amoroso com os “guacaris”, sob as bençãos da deusa-lua, as amantes guerreiras mergulhavam nas águas purificadas do lago e buscavam no fundo um barro, com o qual moldavam um amuleto, " o muiraquitã ", em diversas formas: rãs, tartarugas, peixes entre outros. A mais famosa era em forma de rã, de cor verde, que era presenteada por cada amante ao seu amado, como amuleto de sorte, fertilidade e proteção da divindade lunar.

Diz a lenda que o fruto desse encontro amoroso, quando menino ficava sob proteção do pai; se menina fosse, seria educada pela mãe segundo as tradições ancestrais das “ Icamiabas”.

Saiba...

As Icamiabas foram chamadas de “Amazonas” , primeiramente pelo Frei Gaspar de Carvajal - cronista da épica viagem do espanhol Francisco de Orellana, que entraria para história como o primeiro contato da “civilização” com a Amazônia. O relato minucioso de Carvajal, do famoso encontro com as “Amazonas” – em 24/06/1542, suscitou o fascínio e o mistério junto aos viajantes e aventureiros europeus. As Icamiabas foram chamadas de “Amazonas” por analogia ao mito grego – Ásia Menor, de mesmo nome, muito conhecido na Europa, mas também com registros nas culturas pré-helênicas que viviam às margens do Mar Negro (Cítia) e ao norte da África.

O mito das Amazonas, segundo tese de Johann Jakob Bachofen, intitulada “O Matricarcado”, faz referência a uma das fases do poder político-sócio-religioso da mulher na história primitiva; as Amazonas, cujo nome deriva do grego “ amadzón” - “a” (não) e “madzós” (seio) – sacrificariam sua feminilidade mutilando um dos seios, não apenas para combater como um homem, em sua luta com o masculino pela independência, mas também para fortalecer a Grande Deusa grega da matrilinhagem, da abundância, da caça e dos animais: “Ártemis” , também conhecida como “Diana de Éfeso”, que em uma de suas muitas representações, foi esculpida com um manto cheio de seios, símbolos dos seios a ela sacrificados pelas Amazonas.

A fama das “Amazonas” da América do Sul, as Icamiabas, se espalhou pela Europa, para o que muito contribuiu a descoberta dos muiraquitãs em jadeíta, nas proximidades dos rios Nhamundá, Trombetas e Tapajós – afluentes do Baixo Amazonas, no início da colonização Amazônica, pelos portugueses.

A lenda deu origem ao nome da grande bacia da região, ao seu principal Rio, bem como a um dos Estados do Brasil - a região constou na cartografia européia dos séc. XVII e XVIII, com o nome de “País das Amazonas” ou “País das Pedras Verdes”, separadamente do “Brasil”, como é o caso do mapa de “Pieter van der AA/Século XVIII – Pays des Amazones”, publicado no livro Espelho Índio: A Formação da Alma Brasileira/ Roberto Gambini. – São Paulo: Axis Mundi/Terceiro Nome, 2000).

O “Muiraquitã” possui formas e cores variadas – peixes, sapos e tartarugas; em cores de azeitona, leitosa ou escura - sendo o mais famoso em forma de sapo/rã e de cor verde (jade). Atualmente, poucos são os exemplares existentes na região; Estão expostos nos grandes museus do mundo e fazem parte de coleções particulares. Os(as) amazônidas fazem uso do amuleto em forma de réplicas fabricadas pelos artesãos locais, em cerâmica e outros materiais.