terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Elefante sem Tromba

Maria Waldete de Oliveira Cestari
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"Um elefante tinha o péssimo costume de botar a tromba onde não era chamado: não podia ver um buraco no chão, numa árvore, numa pedra que já ia colocando ali a sua tromba.
Os bichos já estavam revoltados com essa atitude do elefante porque além do mais, ele era um grande fofoqueiro e um palpiteiro de primeira. Fazia fofocas sobre todos os bichos: provocou uma briga entre a onça e o macaco dizendo que a onça tinha dito que iria lhe arrancar a pele. Causou uma briga entre o gambá e a raposa dizendo que a raposa tinha dito que ela era prima dele, mas que não suportava o seu cheiro. Conseguiu romper a velha amizade do galo com a lebre dizendo que o galo tinha dito que por causa dela logo passariam fome, porque ela só arrumava filhos. Causou um grande bate-boca entre o lobo e os coiotes dizendo que eles não caçavam e viviam às custas dele.
Os animais decidiram fazer uma assembléia para resolver de uma vez por todas o problema. Arquitetaram um plano que acabaria de uma vez com o feio costume do elefante e as formigas foram escolhidas para realizá-lo.
Certo dia, ao passar pelo formigueiro, o elefante ouviu um grande tumulto.
Curioso como ele só, colocou a sua tromba no buraco do formigueiro e as formigas passaram a picá-la sem dó.
O elefante desesperado e urrando de dor, tentava tirar a tromba do buraco, mas como a união faz a força, as formigas, num grande esforço coletivo, puxavam-na cada vez mais para dentro. Puxa daqui, repuxa dali, pica daqui, belisca dali e PUM! Lá se foi a tromba!
O elefante sem tromba saiu correndo e se escondeu numa gruta onde ficou vários dias curtindo a sua dor. As formigas saíram do formigueiro e exibiam a todos os bichos o cobiçado troféu: a tromba do elefante.
Passado algum tempo, o elefante muito envergonhado saiu da gruta para comer. Risadas e mais risadas. Também onde é que já se viu um elefante sem tromba? E todo dia era a mesma história e o elefante, passando por tanta humilhação, foi ficando cada vez mais triste. Até que um dia, desabafou ao jacaré:- Não agüento mais essa vida! Além de ficar sem tromba, ainda tenho que agüentar gozações todos os dias. Se ao menos eu pudesse colocar uma tromba postiça...
Foi aí que o jacaré teve uma idéia:
- Eu tenho uma coisa lá em casa que poderia resolver o seu problema. Vamos lá.
Chegando a casa, o jacaré foi remexer num velho baú do qual tirou um saxofone. Depois de algumas adaptações, foi colocado no elefante para lhe servir de tromba.
O elefante todo feliz e pulando de alegria, saiu pela floresta.
- Olá, elefante!
- FOM!
- Mas o que é isso?!!!
- FOM! FOM!
Meu Deus, eu sou uma galinha idosa mas não estou caduca! Devo estar sonhando!
- FOM!
Cada vez que o elefante tentava dizer alguma coisa, o saxofone soltava sons estridentes e o animal irritado resolveu livrar-se daquela tromba barulhenta.
Sem tromba e sem coragem de encarar os bichos, trancou-se em casa. Foi aí que teve uma idéia: ele viu pendurado na parede, um grande chifre de boi que lhe fora dado por um amigo boiadeiro.
- Desta vez vai ser diferente.
Adaptou o chifre na cara e lhou-se no espelho. Estava horrível. Seu corpo era de uma cor e o chifre de outra
- Sabe de uma coisa? Vou pintar o meu corpo, assim, ninguém me reconhecerá e não vão mais caçoar de mim.
E com uma lata de tinta, pintou-se todo de verde, inclusive a tromba. Colocou um chapéu na cabeça e saiu de casa para ver a reação da bicharada. Foi uma risada geral! Nunca se ouviram tantas gargalhadas na floresta como naquele dia. Pobre elefante!
Desanimado, voltava para a casa quando deu de cara com o gambá:
- Ué, por que está com esta cara?
Não aguento mais esta vida! Todo mundo caçoa de mim só por que eu perdi a tromba.
- E por que você não faz uma tromba de bambu?
- Puxa que boa idéia você me deu!
E o elefante saiu pulando de alegria. Foi a um bambuzal que havia ali perto, escolheu um pedaço de bambu. Cortou-o do comprimento e da largura de sua antiga tromba... experimentou... estava perfeito! Só que não se mexia.
- Não faz mal, pensou o elefante.
Ela deve servir para alguma coisa. E servia mesmo. Um dia, ao passar pela roça de Dona Onça, viu a dificuldade que ela sentia para apanhar laranjas no alto do pé.
- Eu, alto como sou e com essa tromba de bambu, posso ser útil, pensou o elefante.
E ofereceu-se para apanhar as laranjas para Dona Onça. Foi um sucesso. O elefante sentia-se útil e aos poucos foi conquistando a amizade e o respeito dos bichos".
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