domingo, 9 de dezembro de 2007

Lenda dos Diamantes


Os bandeirantes com sua "febre do ouro", aventuraram-se floresta adentro, alargando os limites do Brasil, em busca do tão sonhado metal que a natureza guardava no interior de seu ventre. Mas, tal empreitada, não era vista com bons olhos pelo nosso indígena e não demorou muito para que as hostilidades se iniciassem.

Sendo assim,os índios Puris, que habitavam o alto do Ibitira, conclamaram toda a tribo para defender suas terras e na conservação das relíquias deixadas por seus antepassadas. Entre elas, havia uma sagrada e secular árvore (Acaiaca), uma Deusa-árvore, que segundo suas crenças, havia servido de arca e abrigo para o primeiro "casal povoador", os pais dos Puris, quando o Jequitinhonha, com sua fúria devastadora inundou toda a região. Era justamente à sombra desta Catedral da Natureza, que os índios deliberavam e buscavam força e energia para derrotar seus inimigos.

Mas, os bandeirantes de modo a se locupletar com o ouro que a civilização européia exigia, sequiosa, para o seu luxo e conforto, prepararam-se para um grande ataque. Contaram então, com a ajuda do mameluco Tomás Bueno, que traindo o sangue que corria em suas veias, avisou-lhes que para derrotar completamente os Puris, deveriam cortar à árvore sagrada.

Quando toda a tribo retirou-se na primeira Lua Cheia, para margens do Ipiacica, lugar onde iriam festejar com uma grande tabira os esponsais de Cajubi com Iepipo (jovem e valente guerreiro), os invasores subiram até o Ibitira para cortar a frondosa Acaiaca.

Terminados todos os cerimoniais das núpcias, toda tribo retorna à taba. Lá aguardava-os a mais terrível das surpresas. Lançada ao solo, a Grande Deusa-Árvore, derramava suas últimas seivas de vida, depois dos duros e impiedosos golpes do machado, que a assassinaram.

Foi então, que tomado por cega fúria, o pajé Piracaçu, erguendo seus braços, deu seu grito de guerra, inspirando toda a sua tribo.

Os índios, até então pacíficos,deixaram de viver em harmonia, pois faltava-lhes Acaiaca,a árvore sagrada, o elo que os prendia à vida. Sobreveio a luta fratricida e eles não puderam defender-se do inimigo comum, invasor, sedento de ouro.

Os poucos sobreviventes fugiram e Iepipo, o corajoso guerreiro, a esperança dos Puris, jazia entre os mortos. Cajubi, sua esposa, a flor de manacá, desaparecera levando no coração o ódio e o desejo de vingança.

Piracaçu, o velho pajé, deitou um frio olhar sobre o que restou de sua tribo e subindo no tronco da árvore caída lançou sobre os bandeirantes uma eterna maldição.

O céu escureceu renunciando uma tempestade e foi iluminado pelas labaredas que subiam da árvore, do fogo ateado pelas mãos trêmulas de Piracaçu. Em meio as chamas, no topo da Acaiaca, ergueu-se a figura serena do pajé. Relâmpagos rasgavam a noite, seguidos de ensurdecedores trovões.

Um verdadeiro cataclisma convulsionou a terra, rachando-a. Uma chuva torrencial desabou e um surdo estampido ecoou, quando a Deusa dos Puris foi dragada para dentro do ventre da Mãe Terra.

Os carvões ainda incandescentes que haviam se espalhado por toda a parte, transformaram-se então, em grandes pepitas de diamantes.